Review: Dandara (PC)


Batendo o cartão mais uma vez, voltei. Em janeiro o review indie ficou por conta de The Pedestrian, demo de um jogo com potencial de ser mega divertido quando lançarem completo. Sua praia são os jogos de plataforma? Então essse review tá na medida pra você. Mas seguindo, vamos com o review de fevereiro, postado em março por motivos de fevereiro ter sido o mês mais odioso da história.

Eu tinha outro jogo indie separado para resenhar em fevereiro, mas não deu pude dispensar a chance de conhecer Dandara na prática, pois é o melhor de dois mundos: Jogo indie e brasileiro. A história dele é ótima em tudo: Duas pessoas, os mineiros João Brant e Lucas Matos criaram a Long Hat House em 2015, e o primeiro grande projeto foi o Dandara.

Lançado em 6 de fevereiro de 2018, o game não é difícil de achar. Ele saiu para PlayStation 4, Xbox OneNintendo Switch (conheci pelo trailer dessa versão), Android, iOS, e PC. Muitas vezes nem jogo AAA sai em todas as plataformas, ou sai direito. Taí a versão mobile de Chrono Trigger na Steam por R$ 50, que não me deixa mentir.

O que torna Dandara tão especial? Muita coisa. Então se ajeite, pois o review pode ficar grande, mas você vai adorar.


Uma história de luta pela liberdade
Em tempos de Dora Milaje, o BOPE de Pantera Negra só com mulheres negras, Dandara segue o mesmo estilo: Ela é inspirada em Dandara dos Palmares, e mesmo o marido dela -Zumbi dos Palmares- sendo mais famoso, Dandara foi fundamental para proteção dos escravos refugiados no Quilombo dos Palmares, uma heroína afro-brasileira do século XVII. Mas pouco se sabe da sua história.

No jogo ela é a única esperança após o mundo entrar em colapso:


Jogabilidade diferenciada
Dandara é um típico metroidvania. Mas que diabos é um metroidvania?

Nesse sub-gênero -onde Metroid e Castlevania: Symphony of the Night são os "pais"- o jogo se passa num grande mapa interconectado, onde nem todas as áreas ficam disponíveis logo no começo. É preciso obter itens, resolver quebra-cabeças, remover obstáculos, ter paciência e vencer chefes com itens que vão ajudar no progresso.

A protagonista não anda. Ela salta feito ninja por caminhos brancos, o Sal, que é a base cultural do universo do jogo. Ele ainda é o dinheiro que você coleta, os Apelos de Sal, que servem para investir no upgrade das habilidades conquistadas ao longo do caminho. Já o ataque principal -a Flecha da Liberdade- não gasta magia, e tem alcance médio.

Os cenários não dão descanso, e forçam a tomar várias atitudes num curto espaço de tempo, por isso precisão nos saltos e tiros é fundamental. Errar é fácil, e a punição é pesada por dois motivos:

1) Não tem frame de invencibilidade: Sabe quando o boneco toma dano, mas dá tempo de revidar ou fugir enquanto ele está "piscando"? Não tem isso aqui. Você toma dano em cima de dano, e isso me custou uma noite inteira tentando passar do primeiro chefão.

2) Os chekpoints são muito longe uns dos outros: Os acampamentos, que salvam o seu progresso + fazem upgrades, são poucos e muito distantes. Então se você estiver muito mal, vem o dilema..

Você está muito longe do acampamento mais próximo?

A) Se não estiver, corre lá
B) Se estiver, pesne se vale a pena ir lá e se curar, pois o risco de morrer antes de chegar é real. Ou se é melhor arriscar seguir com pouca vida/magia, pois se morrer, você perde todos os Apelos de Sal.

Referências
A minha parte favorita em Dandara são as referências, pois os desenvolvedores fizeram isso de um jeito super natural: Nomes brasileiríssimos batizam áreas e até inimigos do jogo, isso faz sentido, e ao mesmo tempo é um jeito efetivo de cativar o jogador + aumentar o engajamento. Uma das melhores que eu reconheci no trailer e me deixou impressionada, foi essa:


A Tarsila (do Amaral), virou esse personagem que é talvez a sua pintura mais famosa, o Abaporu. Tem o Bar Garantido (Festival de Parintins, manja?), e até referência a Domingão do Faustão. Juro. E é sensacional, pois tá muito bem contextualizada no jogo, e em relação ao que essa parte do jogo referencia.

Produção (gráficos + trilha sonora)
Dandara ganhou meu coração com os gráficos em pixel art, um negócio que eu amo. É tudo colorido, bem detalhado, com vários elementos animados em cada ambiente. A parte que eu mais gostei foi a Vila dos Artistas, onde tem todas várias referências a cultura popular, e essa área logo no comecinho:


É um fundo sombrio, mas eu amei as imagens em sequência, estilo Bohemian Rhapsody do Queen. Méritos do artista Victor Leão.

A trilha sonora é outro destaque. Ambienta super bem cada cenário e transmite o clima mágico desse universo. Thommaz Kaufmann é o responsável pela pérola disponível na Steam por R$ 14.49 para compra separada, ou na Enhanced Edition com jogo + OST por R$ 35.58. Ou se você quiser ouvir essa delicinha de graça, é só correr no Spotify!

Foi perfeito lançarem a trilha sonora de Dandara no Spotify, pois a plataforma é bem carente de game music, e é uma forma de merchan que não dói. Na minha conta eu já tenho salvas as trilhas sonoras de CupheadRocket League, The Evil Within, e Crypt of the Necrodancer. Então pra mim quanto mais, melhor.

PS: De longe a minha favorita é Weight of a Doubt.


Problemas
Eu joguei só a versão PC, mas por Dandara ter saído em plataformas diferentes, dá para entender os problemas. Eles não comprometeram a minha a experiência final de curtir o jogo, mas no começo me deram um bom cansaço:

Controles) No PC é extremamente recomendado jogar com joystick. Mas adivinha? Eu não tenho mais o meu joystick! Ainda assim dá pra jogar com teclado + mouse, eis os comandos:


Ou você pode usar E para ativar coisas, TAB para acessar o mapa, Q para usar uma Essência do Sal e recuperar vida, scroll do mouse para cima/baixo pra dar zoom no mapa, ESC para pausar. Os comandos são apresentados a medida que o jogo avança, mas ao mesmo tempo senti falta deles no menu de configurações, mesmo que fosse só para olhar.

Movimentar é muito cansativo. Você precisa arrastar o ponteiro até a direção desejada de ir, não é só clicar no local, o que facilitaria muito na jogabilidade. Então foi normal eu passar uma raiva de leve por saltar nos cantos errados.

Atacar também me fez passar nervoso, pois é fácil o ponteiro apontar para um lado, e o ataque sair para o outro. Dica: Quando for assim, aperte os dois cliques do mouse que isso vai 'calibrar' o tiro, e ele volta pra direção certa.

Mapa) Senti falta de uma coisa básica - Um ponto no mapa indicando a localização exata. Porque a área onde você está pisca, ok, mas em que parte dessa área você está? O mapa não mostra. Pode ser em cima, baixo, começo, meio, fim, isso tira a noção exata de localização, e foi o que mais dificultou.

Upgrade das habilidades) No primeiro acampamento a "minha Dandara" já apareceu com lv. 6, e eu fiquei mega confusa com isso. Eu já tinha pego um upgrade da Flecha da Liberdade, acho, mas não sei se isso influenciou. O que eu menos gostei foi fazer upgrade das habilidades... O custo em Apelos de Sal não é um por habilidade, é o mesmo para todas.

Aí o que me aconteceu no save principal: Como eu sou burrinha pra jogar metroidvania, foquei em aumentar os corações da Dandara e morrer menos. Daí na hora de melhorar as outras habilidades, o custo em Apelos ficou muito caro já nos primeiros upgrades. Isso 50% me desanimou.

Acampamentos) Você pode se movimentar entre acampamentos, mas só no fim do jogo... Era algo que faria muito mais sentido aparecer durante, talvez depois do segundo ou terceiro.

Resolução) Eu joguei em 4:3, e era até mais fácil de mudar para 16:9 do que eu imaginava (isso que dá usar monitor emprestado). A questão é: Não é intuitivo o jeito de mudar a resolução do jogo, pois se você não fizer isso na telinha antes do jogo carregar, não tem mais como. Não existe uma opção de configurar resoluções dentro do jogo, você precisa sair dele todo, abrir de novo e aí sim mudar.

É um problema que afeta a experiência? Não a minha, mas tem gente que é cismada com isso. A falta dessa opção num lugar encontrável dentro do jogo acaba deixando um tantinho confuso.


Fazendo as contas
Nem dá para imaginar que Dandara é um projeto de quatro pessoas. O jogo não é perfeito, mas é um esforço sólido, divertido, é viciante, com narrativa engajadora, que deixa o mercado brasileiro muito bem representado lá fora. Tem muito espaço para melhorar e crescer. é

Dandara é difícil? Sim. Impossível? Não. Tenha muita paciência, e não se apresse pra resolver tudo de uma vez só, pois o jogo não tem tempo e tem vidas infinitas. Mas você vacilar... Já viu que ele vai cair matando. Se acostume a morrer 50 milhões de vezes, e veja isso como treinamento para criar o seu ritmo de jogo.

Na Steam o jogo custa R$ 29.99, um preço totalmente camarada em relação ao conteúdo oferecido.

Beijo me liguem, Long Hat House e Raw Fury! Sempre que tiver ao alcance da carroça chamada meu PC, quero conhecer as novidades futuras de vocês. E você que quiser comprar o jogo no console ou celular, conhecer a dev e a publisher, os links vão ficar aqui no rodapé.

GAMEPLAY
Veja os vinte e poucos primeiros minutos do jogo, e se encante com ele:



DANDARA
PLATAFORMAS:
PC, PS4, XBOX ONE, SWITCH, IOS, ANDROID
DESENVOLVEDORA: LONG HAT HOUSE
PUBLISHER: RAW FURY
LANÇAMENTO: 06/02/2018

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