Foto: Rafael Lira
“Tais incomodado?” Questiona Abulidu, banda pernambucana afro-brasileira, em sua nova música que dá nome ao grupo e será lançada com clipe nas plataformas digitais, no dia 03/02. A faixa compõe o primeiro EP homônimo, com produção musical de Buguinha Dub, pernambucano de Olinda.
“É com esse grito cheio de histórias que a nossa banda tem a missão de conscientizar o povo de uma maneira geral, sobretudo na questão da igualdade racial”, afirma o cantor e compositor Hélio Machado.
Em um dos trechos da composição, ainda no começo, a banda diz “A língua afiada/Eu sou navalha/Cortando os conceitos/Ferindo racistas”.
Antes do momento que surge a pergunta “tais incomodado?”, o grupo finca com “Bate panela/Batia nela/E foge do debate/Na chapa quente/Abulidu mandou o recado”.
Abulidu foi a música que abriu a apresentação inédita da banda no Pré-Amp, concurso de música autoral de Pernambuco, em fevereiro de 2020. Na ocasião, conquistou o 2º lugar geral do festival. Com o pódio, o grupo formado no fim de 2019 foi premiado com um show no Carnaval do Recife, também no ano passado, no Polo Pátio de São Pedro, no centro da cidade.
“A música Abulidu surgiu como um desabafo, de uma voz de quem nasceu novamente e entendeu que existe uma guerra em si e no mundo. Essa guerra é contra o racismo. Essa faixa é uma carta escrita a ferro e sangue por nossos ancestrais que estamos lendo em voz alta para o mundo”, ressalta Hélio.
A música carrega o sentimento geral da banda, de "bulir" com as estruturas que oprimem o povo. “Esse som vem do sentimento de pele e espírito do que é ser preto em um país com origens escravistas, permeado por relações sociais fundamentadas na opressão racial”, declara Hélio.
Em maio de 2021, exatamente no dia 13, Abulidu lançou o seu primeiro single, “Quilombo Urbano”, juntamente com videoclipe, ambos disponíveis nas plataformas digitais. Além de Hélio Machado, formam a banda Thúlio Xambá (percussões e voz), Arnaldo Monte (percussões), Paulo Alves (violão e voz), Rogério A. Martins (guitarra) e Raphael César (baixo). O grupo também conta com os trabalhos técnicos de Caravela.
Clipe
O videoclipe tem como protagonistas os músicos da banda e a atriz pernambucana Clau Barros. O roteiro começa no bairro da Mangabeira, passa pelo bairro de São José e Pátio Santa Cruz, no Texas, ambos localizados no Centro do Recife, terminando o percurso nas Torres Gêmeas, no Cais Santa Rita, também na Zona Central recifense.
Na parte final do clipe, a banda cobra justiça por Miguel, criança de cinco anos de idade que morreu ao cair do 9ª andar de um edifício residencial no Recife.
Assim como no videoclipe de estreia, a produção do novo clipe é do pernambucano Rennan Peixe, cineasta, professor e fotógrafo. Ele dirigiu o trabalho com o cantor Hélio Machado. Além do processo de montagem ser realizado por Letícia Barros.
O cenário foi montado por Anderson Leite, ator, diretor e dramaturgo. Elisangela Leite e Miguel Leite na figuração. Aya Moda Étnica/Negra Dani ficou à frente do figurino, com Mandela responsável pela maquiagem.
Conheça a banda
O nome Abulidu surgiu da união dos verbos transitivos abolir e bulir (gíria do Nordeste). A banda nasceu no fim de 2019, quando Hélio Machado, da comunidade Suvaco da Cobra, no município de Jaboatão dos Guararapes (Região Metropolitana do Recife), se reconheceu negro no Museu da Abolição, no bairro da Madalena, no Recife. Em seguida, encontrou outros cinco músicos pretos de origem periférica que também levantam a bandeira do movimento negro. Todos são pernambucanos.
Abulidu é uma panela preta sonora cheia de ingredientes que representa a cultura afro-brasileira. O grupo vê nessa periferia um terreno fértil para criações sobre a poética das populações marginalizadas, fazendo da música uma mola propulsora para conectar seus pares, suas realidades e suas histórias.
O grito da Abulidu passa das composições para o seu canto e quem escuta faz uma viagem às raízes africanas. A banda traz em sua sonoridade vários estilos musicais, como raga, bregafunk, rap, afrobeat, hip hop, maracatu, embolada e outros ritmos da cultura afro-brasileira.
As músicas carregam uma conversa entre cordas e percussões, além de um discurso sobre a valorização e representatividade afro-regional. Com o som dos tambores ancestrais, o grupo ‘aquilomba’ os ouvidos, toca a alma com rap, arrepia a pele com o afrobeat e bagunça as estruturas com o maracatu.
Abulidu usa a música para descortinar temas importantes para a comunidade negra e que reverberam na sociedade. Além disso, permite que outros jovens que estão nesta mesma marginalidade social possam se ver e se reconhecer nas letras sobre suas realidades.
A banda luta pela inclusão, difusão e equidade de oportunidades na cadeia da economia criativa, produzindo um trabalho autoral que dialoga com diferentes vivências e cria ferramentas para retirar ‘os pesos’ e olhares preconceituosos em relação ao som feito nas margens.
O grupo carrega em seu cerne o olhar empoderador dos corpos negros desde sua idealização, criação e execução. As questões étnico-raciais são os pilares de sustentação para produção e difusão da obra musical. Por meio da música, Abulidu propõe uma ruptura de pensamentos engessados, com um olhar na difusão das relações estabelecidas entre os indivíduos e o meio em que vivem, questionando suas visões e perspectivas frente à sociedade.
0 Comentários
Seja educado(a) antes de comentar. Educação é grátis, e todo mundo gosta.