Hoje é dia de começar uma, na qual eu planejo há meses: essa coluna. O nome não é muito original - "Nos bastidores da ansiedade". Minha ideia, entretanto, é exatamente essa. compartilhar um pouco do que é ver a vida pelo olhar de uma pessoa ansiosa. Organização Mundial da Saúde, cerca de 9,3 % da população brasileira sofre de ansiedade. O país tem mais 211 milhões de habitantes, ou seja: é gente por demais.
Estar ansioso(a) x ter ansiedade
Quer entender a cabeça de uma pessoa com ansiedade? É essa música
Sentir ansiedade na véspera do Enem ou da entrevista de emprego, é uma coisa. Ter ansiedade é outra totalmente diferente. A ansiedade dita o ritmo da vida da pior forma possível. Ela te aprisiona, limita, mata boas ideias. Como eu disse na retrô, entretanto, eu decidi mudar. E literalmente: após 17 anos morando no mesmo endereço, eu mudei. O engraçado é que eu conheço onde vim parar, pois já morei aqui, anos atrás.
O lugar tem defeitos, mas qual pedaço de terra da Terra não tem? Apesar disso, o ambiente é super agradável e tranquilo... Até demais. Quando minha mãe disse que nós viríamos para cá, eu pensei "eu te amo, mas não agora". Uma coisa que mexe demais com o ansioso, é mudar. Outra pior ainda é o silêncio.
Minha mãe conta a história direitinho até hoje. "Eu não gostava daqui porque era muito quieto, você era pequena e eu não tinha com quem conversar. Aí eu precisava chamar a sua avó pra passar a noite aqui e eu ter companhia". Nessa época eu tinha 5 anos, talvez. Hoje, aos 30, a gente assiste TV, ri, se estressa, e fica bolando uns planos malucos pra fazer a vida melhorar. O mundo é engraçado.
O som do silêncio
Ouça essa versão, vale muito, mais muito a pena. É absurda de boa.
No endereço anterior era o caos, eu não conseguia relaxar. Vizinho é ruim? Experimenta ter parente como vizinho. Aqui é fácil respirar, ter tempo para relaxar, trabalhar em paz, mas é muito silencioso. E no meu endereço anterior, as piores crises de ansiedade, que viraram pânico, foram quando? Isso, na madrugada, a hora mais silenciosa. A sensação era de que eu ia explodir de tanta angústia, muitas vezes por motivo algum.
Com quase dois meses de casa nova, a vida vai ok do jeito positivo. Não é fácil aprender o oposto dos dois últimos anos, onde o pânico e o stress pós-traumático foram companhia constante. Minha gata morreu doente, eu odiava meus vizinhos, e ouvia com frequência o "mas a sua prima tá fazendo isso e aquilo". Faltava dinheiro, sobrava frustração e eu adorava me enganar dizendo que estava tudo bem, e não estava.
Isso é importante, sabia? A sociedade criou a ditadura da felicidade onde ninguém pode sentir uma tristezinha. Nessa hora eu lembro da professora de psicologia da faculdade: "sentir tristeza é normal, o que você não pode é ficar nela". É importante sim, você viver a fase ruim pra ter o seu fechamento e sentir "bom, agora eu posso ir em frente". Jogar coisa pra debaixo do tapete não leva a nada. Por anos eu fiz isso, e a vida não perdoou. Todo dia era como se ela me esganasse viva.
"Tonight I'm movin on, movin ahead"
Eu terminei meu relacionamento com a sofrência, e tô indo pra outra (ha)
A ansiedade e o pânico me fizeram muito mal. Eu perdi a alegria de viver, eu perdi a capacidade de viver. Um dia eu me arrumei para assistir Vingadores: Ultimato, pisei fora do portão, tive uma crise e voltei, com raiva de mim mesma. No outro, bem antes, fui assistir O Retorno de Mary Poppins. A crise que surgiu por um gatilho totalmente aleatório, tirou qualquer alegria pós-filme. Ficou a raiva e a culpa.
Parte importante de superar qualquer trauma, é começar se perdoando. Nem tudo, se alguma coisa, é sua culpa. Você precisa se perdoar, se dar o direito de seguir em frente. A vida não é eterna, e a crise também não é. Fases ruins, acontecem. Duram dias, duram anos, ou se é que vão embora. Tá achando que eu mudei de endereço, mas perdi os maus hábitos emocionais? Cada dia a gente muda um pouco.
Enquanto isso, é afogar as mágoas nos jogos, cinema, nas séries, lendo fanfic ou assistindo Twitch. E mais do que isso, é acordar todo dia pensando"como eu posso conectar as pessoas hoje com a minha prosa". É isso.
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