Deu ruim, mas eu gostei: A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell (2017)


Já dizia Jorge Vercilo: faz um tempão desde o primeiro (e único) Deu ruim, mas eu gostei: 2016. E foi um sucesso! Afinal, é difícil errar quando se cai de peito num review como Dead or Alive. Hoje é a mesma coisa: vamos falar de treta, pois essa é a ideia da coluna. Mas é treta especial: neste sábado (30) completamos dois anos do lançamento de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell. Então vamos relembrar do filme mais malhado do que Malhação das antigas.


POR QUE DEU RUIM?

Ghost in the Shell, o fantasma da treta (risos)

As chances de sucesso Ghost in the Shell foram pelo ralo por N motivos, mas eu vou destacar três. O primeiro é ter adaptado Ghost in the Shell. Existem animes cujos fãs são malas sem alça gigantes, pois se acham superiores - tipo Evangelion. Originalmente, Ghost in the Shell é um anime filosófico, que aborda temas existenciais muito interessantes, mas o que era algo bom, tornou-se um problema.

Não adaptar uma história mega conhecida, por exemplo, foi o que tornou Alita: Anjo de Batalha um sucesso de US$ 400 milhões. Entre outros motivos, mas também por isso.

O segundo motivo eu realmente concordo: ter tido o Rupert Sanders como diretor. O trabalho do britânico de 48 anos não foi ruim, mas também não foi bom. Seu único filme anterior a Ghost in the Shell? Branca de Neve e o Caçador. Pois é. Ele foi um sucesso de US$ 396,2 milhões, mas muito disso se deu por escorar nos nomes e da Charlize Theron, Chris Hemsworth e Kristen Stewart. Mesmo o filme sendo um desperdício de orçamento (e da Charlize Theron).

O filme tem um visual muito bonito, mesmo que às vezes meio escuro (mas nada DCEU)

Outro "detalhe" é a polêmica que o diretor protagonizou. De forma resumida: com a Kristen ele traiu a esposa, Liberty Ross, e com o Sanders ela traiu o Robert Pattinson. Então pensa num diretor ideal para não chamar a atenção, heh.

O terceiro motivo é o primeiro, pois foi o mais famoso: ter a Scarlett Johansson no papel principal. Digo sem erro: se existe um top três de atrizes mais odiadas do cinema, ela só perde para Jennifer Lawrence. Ghost in the Shell surpreendeu em como contornou o fato de não ter uma Motoko Kusanagi japonesa. Foi muito inteligente. E ter a Scarlett foi uma boa ideia, tentando dar um boost no projeto por causa dela estar no MCUVingadores, etc.

Ainda assim foi insuficiente para vencer a problematização muito mais forte no Ocidente, afinal nós temos o eterno complexo de Salvadores Brancos™ dos orientais. Quando ainda existia o meu podcast solo eu fiz todo um apanhado da polêmica, cuja reação dos japoneses foi bem diferente. Até o Hideo Kojima falou umas coisas muito interessantes.


POR QUE EU GOSTEI?

O coração de tiete, ele ficou bem satisfeito em poder... Tietar

Em meio à coleção de ruins, Ghost in the Shell fechou com bilheteria global de US$ 169, 8 milhões. Não foi um fracasso, antes de Alita esse era o live-action de anime/mangá mais lucrativo. E não foi a tragédia que a imprensa falou, e muita gente repetiu igual papagaio de pirata. Se você assistir o filme sem os preconceitos, implicâncias e mimimis que foram pregados, vai curtir e se divertir.

Roteiros complicados são os meus favoritos. Ela, Matrix, A Casa do Lago, etc. Mas eu também não poso de falso elitismo: tem hora que um filme menos cabeçudo é legal. O forte de Ghost in the Shell é esse: a ação bem coreografada e gostosa de assistir. Os cenários são bonitos, bem feitos, cheios de referências ao mangá e anime. Às vezes eles são escuros demais, mas não é nível DCEU.

Se, e tão somente se o projeto tivesse sobrevivido, renderia uma continuação. O roteiro foi "diluído", deixando as questões existenciais mais acessíveis, o que renderia material para outro filme. A ideia foi boa, os roteiristas envolvidos sabem das coisas. Jamie Moss escreveu Uma Vida em Sete Dias, um filmão. Recomendo. Jonathan Herman escreveu Straight Outta Compton, indicado ao Oscar.

Um filme cheio de referências, e isso a Globo não mostrou

Gostei do elenco ser diverso em etnias, destacando os japoneses, claro. Vai de encontro a ideia de que no futuro o conceito de nação e fronteira perde o sentido de hoje em dia. Os personagens funcionam, cumprem seu papel. Meu favorito é o Batou (Pilou Asbæk), e a amizade dele com a Motoko. Os dois têm uma dinâmica ótima: o "irmão urso" que protege a "irmã menor", mas ela sabe se cuidar muito bem sozinha.

O primeiro motivo é bem óbvio, né? Heh. Tietar é sempre bem-vindo, claro. Mais ainda por ter sido um filme que trouxe alegria num tempo tenso da minha vida. Clima legal, dinheiro no bolso, a hora da sessão era boa, eu ainda não tinha os traumas que tenho hoje. Então isso me fez criar um apego especial com o filme.

ENTÃO... VALE ASSISTIR?

Foi um filme tretoso, mas uma memória pela qual eu tenho muito carinho

Vale. Missão: Imposível ensinou que ação e bom roteiro podem andar lado a lado, mas eu tento ver cada caso por seu caso. A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell podia ter sido mais do que foi? Podia. Mas também foi bem mais do que disseram ser. Eu como fã de séries e filmes de polícia e/ou de espionagem, fiquei muito satisfeita.

O filme não deixa o fã casual perdido. O fã hardcore, se for enjoado e não viu, melhor nem ver. Se o fã for hardcore e razoável, o que é raro, vai curtir, pois ele sabe que no fim do dia é aquilo. Sempre que você quiser viver a complexidade da obra de Masamune Shirow, basta voltar ao anime e mangá. Como o famoso filme clássico de 1995, dirigido pela melhor pessoa: Mamoru Oshii. O mesmo cara que dirigiu um dos meus animes favoritos: Patlabor.

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