Já dizia Jorge Vercilo: faz um tempão desde o primeiro (e único) Deu ruim, mas eu gostei: 2016. E foi um sucesso! Afinal, é difícil errar quando se cai de peito num review como Dead or Alive. Hoje é a mesma coisa: vamos falar de treta, pois essa é a ideia da coluna. Mas é treta especial: neste sábado (30) completamos dois anos do lançamento de A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell. Então vamos relembrar do filme mais malhado do que Malhação das antigas.
POR QUE DEU RUIM?
![]() |
Ghost in the Shell, o fantasma da treta (risos) |
As chances de sucesso Ghost in the Shell foram pelo ralo por N motivos, mas eu vou destacar três. O primeiro é ter adaptado Ghost in the Shell. Existem animes cujos fãs são malas sem alça gigantes, pois se acham superiores - tipo Evangelion. Originalmente, Ghost in the Shell é um anime filosófico, que aborda temas existenciais muito interessantes, mas o que era algo bom, tornou-se um problema.
Não adaptar uma história mega conhecida, por exemplo, foi o que tornou Alita: Anjo de Batalha um sucesso de US$ 400 milhões. Entre outros motivos, mas também por isso.
O segundo motivo eu realmente concordo: ter tido o Rupert Sanders como diretor. O trabalho do britânico de 48 anos não foi ruim, mas também não foi bom. Seu único filme anterior a Ghost in the Shell? Branca de Neve e o Caçador. Pois é. Ele foi um sucesso de US$ 396,2 milhões, mas muito disso se deu por escorar nos nomes e da Charlize Theron, Chris Hemsworth e Kristen Stewart. Mesmo o filme sendo um desperdício de orçamento (e da Charlize Theron).
![]() |
O filme tem um visual muito bonito, mesmo que às vezes meio escuro (mas nada DCEU) |
Outro "detalhe" é a polêmica que o diretor protagonizou. De forma resumida: com a Kristen ele traiu a esposa, Liberty Ross, e com o Sanders ela traiu o Robert Pattinson. Então pensa num diretor ideal para não chamar a atenção, heh.
O terceiro motivo é o primeiro, pois foi o mais famoso: ter a Scarlett Johansson no papel principal. Digo sem erro: se existe um top três de atrizes mais odiadas do cinema, ela só perde para Jennifer Lawrence. Ghost in the Shell surpreendeu em como contornou o fato de não ter uma Motoko Kusanagi japonesa. Foi muito inteligente. E ter a Scarlett foi uma boa ideia, tentando dar um boost no projeto por causa dela estar no MCU, Vingadores, etc.
Ainda assim foi insuficiente para vencer a problematização muito mais forte no Ocidente, afinal nós temos o eterno complexo de Salvadores Brancos™ dos orientais. Quando ainda existia o meu podcast solo eu fiz todo um apanhado da polêmica, cuja reação dos japoneses foi bem diferente. Até o Hideo Kojima falou umas coisas muito interessantes.
POR QUE EU GOSTEI?
![]() |
O coração de tiete, ele ficou bem satisfeito em poder... Tietar |
Em meio à coleção de ruins, Ghost in the Shell fechou com bilheteria global de US$ 169, 8 milhões. Não foi um fracasso, antes de Alita esse era o live-action de anime/mangá mais lucrativo. E não foi a tragédia que a imprensa falou, e muita gente repetiu igual papagaio de pirata. Se você assistir o filme sem os preconceitos, implicâncias e mimimis que foram pregados, vai curtir e se divertir.
Roteiros complicados são os meus favoritos. Ela, Matrix, A Casa do Lago, etc. Mas eu também não poso de falso elitismo: tem hora que um filme menos cabeçudo é legal. O forte de Ghost in the Shell é esse: a ação bem coreografada e gostosa de assistir. Os cenários são bonitos, bem feitos, cheios de referências ao mangá e anime. Às vezes eles são escuros demais, mas não é nível DCEU.
Se, e tão somente se o projeto tivesse sobrevivido, renderia uma continuação. O roteiro foi "diluído", deixando as questões existenciais mais acessíveis, o que renderia material para outro filme. A ideia foi boa, os roteiristas envolvidos sabem das coisas. Jamie Moss escreveu Uma Vida em Sete Dias, um filmão. Recomendo. Jonathan Herman escreveu Straight Outta Compton, indicado ao Oscar.
![]() |
Um filme cheio de referências, e isso a Globo não mostrou |
Gostei do elenco ser diverso em etnias, destacando os japoneses, claro. Vai de encontro a ideia de que no futuro o conceito de nação e fronteira perde o sentido de hoje em dia. Os personagens funcionam, cumprem seu papel. Meu favorito é o Batou (Pilou Asbæk), e a amizade dele com a Motoko. Os dois têm uma dinâmica ótima: o "irmão urso" que protege a "irmã menor", mas ela sabe se cuidar muito bem sozinha.
O primeiro motivo é bem óbvio, né? Heh. Tietar é sempre bem-vindo, claro. Mais ainda por ter sido um filme que trouxe alegria num tempo tenso da minha vida. Clima legal, dinheiro no bolso, a hora da sessão era boa, eu ainda não tinha os traumas que tenho hoje. Então isso me fez criar um apego especial com o filme.
ENTÃO... VALE ASSISTIR?
![]() |
Foi um filme tretoso, mas uma memória pela qual eu tenho muito carinho |
Vale. Missão: Imposível ensinou que ação e bom roteiro podem andar lado a lado, mas eu tento ver cada caso por seu caso. A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell podia ter sido mais do que foi? Podia. Mas também foi bem mais do que disseram ser. Eu como fã de séries e filmes de polícia e/ou de espionagem, fiquei muito satisfeita.
O filme não deixa o fã casual perdido. O fã hardcore, se for enjoado e não viu, melhor nem ver. Se o fã for hardcore e razoável, o que é raro, vai curtir, pois ele sabe que no fim do dia é aquilo. Sempre que você quiser viver a complexidade da obra de Masamune Shirow, basta voltar ao anime e mangá. Como o famoso filme clássico de 1995, dirigido pela melhor pessoa: Mamoru Oshii. O mesmo cara que dirigiu um dos meus animes favoritos: Patlabor.
0 Comentários
Seja educado(a) antes de comentar. Educação é grátis, e todo mundo gosta.