Entrevista: Ricardo Cruz (JAM Project / Anison Lab)

(Entrevista publicada originalmente no HMBR em 22/11/2014)

Ore sanjou! Fala galera, beleza? Mais um HMBR Entrevista e dessa vez, nunca antes na história desse blog, o pseudo Jô partiu para a entrevista e, se temos Waka no comando do post, temos conexão Japão. Batemos um papo com o cantor, jornalista, tradutor, otaku e logo menos herói do próprio tokusatsu: Ricardo Cruz, o vocalista brasileiro do JAM Project! Lets to the Laida Kick!

HMBR: Apesar de ser jornalista, você acabou encontrando o seu caminho como cantor. Como começou o seu interesse pela música e as anisongs?


Ricardo: Começou bem antes de eu entrar pro jornalismo. Vem desde a infância, assistindo Jaspion, Changeman e todas aquelas séries japonesas que passavam na TV Manchete entre o fim dos anos 80 e começo dos 90. Eu era viciado. Gravava tudo, assistia o dia inteiro. E comecei a aprender japonês sozinho por causa disso.


HMBR: Todo fã de cultura japonesa já sonhou ao menos uma vez sobre como seria morar no Japão, mas você foi um dos que realizou esse sonho através do intercâmbio. Qual era a sua expectativa de viver no país, e ouvir as bandas e artistas que embalaram o lado otaku?
Ricardo: Morei lá durante o ano de 1999, nessa época eu estava alucinado pela cultura pop japonesa. Colecionava séries em VHS, livros, revistas... A minha expectativa de moleque empolgado era consumir o máximo possível essas coisas enquanto estivesse lá hahahah Claro que, com o tempo, fui conhecendo muitos outros lados do Japão e me interessando por outras coisas também, mas a motivação original era a de aumentar minha coleção ao máximo. E foi o que aconteceu!

HMBR: Em outra entrevista você disse que gosta de colecionar qualquer coisa relacionada a animes e mangás. Se um dia nossos leitores estiverem na Terra do Sol Nascente, qual lugar você indica visitar para música, jogos e action figures?

Ricardo: Na verdade, minha coleção tem mais livros de tokusatsu do que qualquer outra coisa. Mas, como disse antes, meu auge foi até o começo dos anos 2000. Ultimamente compro somente alguns itens pontuais que me interessam. Agora, quem for pro Japão não pode deixar de ir à Mandarake, que é uma rede de lojas especializada em material antigo de animes, mangás, tokusatsu, games, fanzines, etc. É a minha loja preferida de lá. Em Tóquio tem três unidades, em Shibuya, Nakano e Akihabara. Aliás, fiz um vídeo visitando cinco lugares imprescindíveis em Akihabara (o bairro eletrônico/ nerd de Tóquio) para o meu canal no Youtube. Tem umas dicas boas lá, olha só:

Nota do Waka: Mugen LAB é muito bom para vermos todas essas curiosidades Brasil-Japão e bastidores do JAM


HMBR: No blog nós sempre elogiamos muito a forma que o Japão tem de encarar o rock e o heavy metal, que agora você conhece muito bem. Quais as diferenças entre o mercado musical japonês e o mercado brasileiro mais te chamaram a atenção?

Ricardo: Lá o mercado musical é bastante segmentado e o público, muito fiel. Seja lá qual for o nicho, ele funciona de maneira muito profissional. Com o rock não é diferente. As gravadoras investem nas bandas em que elas acreditam, fazem um bom marketing, planejam turnês, lançam material de qualidade... Acho que essa máquina por trás dos artistas é a grande causa das coisas funcionarem melhor por lá. É claro que a gente tbm tem que considerar que no Japão CDs ainda vendem, isso faz diferença pois é uma grana extra que entra e ajuda as empresas a continuarem na ativa.

JAM Project
HMBR:
Em 2005 você se passou a integrar o JAM Project, maior grupo de anisongs do mundo. Conte pra gente qual é sua participação na hora de compor, e como é ordenada as vozes e coros, que são impecáveis.

Ricardo: É uma grande honra para mim fazer parte do JAM. Todos os integrantes são artistas que eu cresci ouvindo e admirando. Aprendo muito com eles, não só sobre música, mas sobre postura profissional e sobre como tocar uma carreira séria como artista a longo prazo. No JAM, sempre que se fecha um tema novo para algum seriado, jogo, etc, os 6 cantores (eu incluso) fazem demos e enviam à gravadora, que escolhe uma. É um processo bem interessante, pois temos que criar melodias em cima de um briefing, e não inteiramente baseado no que cada um gosta pessoalmente. É um ótimo exercício e tem rendido músicas incríveis!

HMBR: Ainda no mesmo ano foi lançada a Fase Inferno dos Cavaleiros do Zodíaco, que no Brasil teve a abertura cantada por você. Agora, você também é parte do Cavaleiros In Concert, uma das ideias mais legais do momento. Qual é a sensação de ter o seu nome marcado na história deste anime tão especial para público brasileiro?

Ricardo: É outro motivo de muito orgulho. Cresci assistindo Cavaleiros. Posso dizer que foi graças aos tokusatsu e a Cavaleiros que resolvi morar no Japão e, consequentemente, começar essa minha carreira.

HMBR: Você também tem o seu projeto solo, o On The Rocks, que logo na capa mostra a inspiração em tokusatsus, além da referência a pedreira. Como foi o trabalho de composição do EP?

Ricardo: Esse EP é a minha homenagem ao gênero que me deu tudo o que tenho hoje. Foi graças a minha paixão pelos tokusatsu que as coisas aconteceram na minha vida. Levei um ano para criar as três músicas do disco. É muito tempo, eu sei hahaha Mas quis fazer três músicas poderosas que estivessem à altura das que me inspiraram a me tornar músico. Espero ter conseguido! Agora estou trabalhando num clipe da faixa título que será filmado numa pedreira e terá explosões, monstros de borracha e a participação do ator Hiroshi Watari, que fez o Boomerman no Jaspion, e também foi o protagonista de Sharivan e Spielvan. Não poderia estar mais feliz.

HMBR:Sempre Sonhando” é uma música muito especial para o Hardmetal Brasil, pois nós super nos identificamos com mensagem. E ainda falando em composição, como surgiu a ideia para ela e qual foi a recepção dos demais integrantes quando viram você chegar com uma música pronta, mas com título em português?

Ricardo: A melodia dessa música é composição do Hironobu Kageyama, o líder do JAM. Eu fiz a letra. Fico muito contente com a repercussão que ela tem até hoje. Também gosto muito dela e realmente acredito na mensagem que tentei expressar na letra - a de que nada é impossível se você acreditar e trabalhar duro para fazer acontecer. Eu gravei a minha voz aqui em São Paulo, e eles lá no Japão. Lembro que me ligaram de dentro do estúdio um dia no final de semana perguntando sobre a pronúncia das palavras "Sempre Sonhando". Lá era de tarde e aqui, de madrugada, e eu estava numa balada qualquer, não conseguia escutar nada do que eles falavam. Fiquei gritando em japonês no telefone, ninguém entendeu nada hahahah. E eles lá rindo... Foi uma situação bem inusitada, mas deu tudo certo.


HMBR: Conte para nós, fãs ansiosos, um pouco sobre o quê podemos esperar do On the Rocks e do JAM Project.

Ricardo: O On the Rocks, como disse, é um tributo aos tokusatsu e às anime songs. Mas com um toque meu. Meu antigo chefe na época em que eu era jornalista falava que "estilo é uma mistura de tudo aquilo que você admira com o que você não consegue deixar de ser". O On the Rocks é exatamente isso. Ele está à venda no iTunes Store, pra comprar é só entrar lá, digitar "Ricardo Cruz" e pronto! Já estou até trabalhando num próximo CD aqui. Do JAM, podem esperar mais músicas épicas para animes e games fodas e shows incríveis. Assisti esses dias pela primeira vez o DVD da última turnê que participei com eles, esse ano, chamada Thumb Rise Again. O JAM no palco é simplesmente demais. Acho que a banda está na melhor fase, e não pretende parar.
Impossível não lembrar dos Tokusatsus da Era Manchete nessa capa

HMBR: Por fim, uma reflexão. A vida muda quando uma pessoa segue carreira na música, só que no seu caso também existe um fator de cultura popular fortemente envolvido. O quanto você sente que tudo isso mudou a sua vida?

Ricardo: É engraçado, porque eu segui por esse caminho maluco desde a adolescência. Mesmo quando fui jornalista, trabalhava a maior parte do tempo com cultura pop japonesa, então não sinto que isso mudou a minha vida, e sim que isso é a minha vida desde sempre. E, apesar de ser a melhor coisa do mundo trabalhar com o que gosta, é uma carreira como qualquer outra, que exige responsabilidade, muita dedicação e capacidade de se reinventar o tempo todo pra se manter relevante entre as tantas coisas que acontecem ao mesmo tempo no mundo de hoje. É uma luta, como as letras das nossas músicas sempre dizem, mas uma luta extremamente prazerosa.
Esse foi nossa entrevista com o vocalista Ricardo Cruz

Fotos: Rafael Roncato 

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